terça-feira, setembro 25, 2007

O Pentaprisma de Dürer


Em minhas andanças aleatórias pelo meio digital, encontrei esta gravura de Dürer que não conhecia e que me impressionou muito. No Wiki tem um verbete para ela e um link direto para um arquivo em alta. Melancolia I, chama-se. É de 1514 e já mereceu um livro de dois volumes e uma monografia inteiros só para ela. Tem um quadrado mágico no alto, à direita. Parece que interpretam o que para mim parece um sol, como sendo um cometa. Esta época, 1514, é o início do domínio sobre a luz, por isso creio ser o sol e seus raios, num modo didático de dizer que é a luz que cria o arco-íris. A "anja" sentada não está com fisionomia melancólica, entretanto. Me parece que sua melancolia está relacionada ao tédio diante das descobertas da ciência, desvendando como o mundo se constitui, com tantos instrumentos para dominá-lo. tem o compasso, a ampulheta, a balança, a roda (o anjinho pequeno está sentado sobre ela), entre outras ferramentas. mas o que mais me impressiona,fotógrafos!, tremei, é o baita pentaprisma na cena. a interpretação que vi no Wiki me parece ridícula. dizem que simboliza a forma imperfeita, inacabada, que relacionam ao sentimento de Melancolia. que nada! com um pentaprisma desses, quem precisa de câmera escura para desenhar?

2 comentários:

B disse...

essa gravura, acredita-se, fazia par com uma outra, São Jerônimo em seu Estúdio. Nessa última os efeitos de luz são impressionantes. as duas juntas formariam um par que versava sobre a relação do homem com o conhecimento. na Melancolia essa bagunça, essa falta de direção espiritual, a criança simbolizaria a inocência de quem produz sem pensar no que faz e o anjo quem pensou tanto que não vê mais sentido em produzir ou se vê perdido em meio a tanto conhecimento que não vai para lugar nenhum, no estúdio de São Jerônimo tudo está organizado, há um alo de luz envolta de sua cabeça e ele está inclinado sobre a escrivaninha (dizem que ele foi o tradutor da bíblia para o latim). Nessa gravura a relação com o conhecimento passa pela mediação divina, uma caveira na estante lembra a morte, há também um pequeno cachorro, mas o animal principal é um leão (que está associado a representação do santo e talvez a sabedoria) e a luz entra pela janela lateral e banha o ambiente de tal forma que a precisão lembra os quadros do Vermeer. Dürer gravava a chapa de cobre com o buril, uma ferramenta com um cabo de madeira que apoia na palma da mão e uma lâmina em v que precisa ser empurrada frontalmente na chapa tirando filetinho por filetinho. o safado era imbatível na técnica, qualquer micro variação de pressão e uma linha ficaria mais profunda ou mais rasa quebrando os efeitos precisos que ele conseguia. o desenho era matemático até o último fio de cabelo e as linhas da gravura as vezes mais finas do que isso. trabalhei em uma exposição em que elas ficaram penduradas lado a lado. você tinha que ver com a lupa para acreditar, a imagem não é muito maior do que aparece no blog, talvez três centímetros maior. agora, não é engraçado que certas informações técnicas são sempre as últimas a chegar. queria saber melhor como esse pentagrama funciona, até hoje não sabia o que era. fico pensando se ele usaria para a gravura, qual o tamanho das imagens que produz, etc. mas de qualquer modo a gravação é impecável. também gostaria de ter descoberto com antecedência que o Degas gostava de triturar giz pastel para fazer uma pasta com a qual ele desenhava séries como a das banhistas, teria me ajudado muito mais a entender o que eu estava vendo. afinal nós somos gente que faz

luish disse...

fui em busca do St. jerome e encontrei um site que menciona uma terceira gravura relacionada a estas duas: The Knight, Death and the Devil, de 1513. Mesmo tamanho, igualmente primorosa. O cavaleiro, a Morte e o Capeta. Tem também o que parece ser um bode preto e unicorno (será este o Cramulhão?), castelos ao fundo, a Morte parece segurar uma ampulheta, ou este é que é o Torto? Tem serpentes na cabeça e está de boca aberta, soltando uma tentação.