segunda-feira, maio 07, 2007

A foto da capa


Mastrangelo Reino. Folha Imagem 07.05.2007




Hoje pela manhã, após um belo domingo desconectado dos meios de comunicação, encontro na primeira página da Folha de São Paulo uma impactante fotografia. O autor, Mastrangelo Reino, capturou com sua digital, na madrugada de sábado para domingo, 16 policiais militares (você conta mais?) no confronto com os ditos fãs do grupo racionais MC’s, no centro de São Paulo. Sendo o destaque imagético único da Virada Cultural na capa do jornal, ocupou todo o terço superior. Com tamanho destaque (aliás, merecido pela imagem) algumas perguntas ficaram na minha cabeça:
A capa só serve para vender o jornal, ou já transmite idéias e valores sobre os “fatos”? O título que acompanha a fotografia (Virada tem público recorde e depredação) serve como contraponto, atenuante, ou fica a imagem de que o tumulto foi mais importante que a festa? Não teria o banco de imagens da Folha uma fotografia espetacular da festa para por ao lado desta ou para dar como destaque (ou no caso, o incrível dessa imagem é realmente único)? Os fotógrafos do Jornal só buscam confusão e não conseguem fotografar espetacularmente (como parece exigir uma primeira página) a festa popular?
Ou seria a imagem da violência já contraponto das duas fotografias abaixo, a saber: Felizes jogadores do Santos F.C. comemorando a conquista do campeonato e o beijo dos noivos (pais de Enzo, 7; 2º. Milagre atribuído a frei Galvão?!?!?)?
Como articular denúncia e informação?
Por fim, o que é espetacular, e o que se tornou banal: 3,5 milhões de pessoas se divertindo no centro da metrópole em plena madrugada ou o confronto da PM nas ruas da cidade?

P.S.: Obviamente duvido que seja incapacidade dos fotógrafos cujas fotografias admiro freqüentemente nas páginas do jornal. E todas as minhas medalhas (mesmo que eu não tenha mérito para conceder nenhuma) para Mastrangelo Reino, que afinal deve estar muito feliz com ter emplacado a capa. Eu também ficaria.

2 comentários:

Anônimo disse...

Quanto a foto, só percebo que há um grande desperdício de pólvora na manufatura das ditas "balas de borracha", pelo visto o projétil é muito leve e deixa o cano na arma rápido demais, a pólvora continua queimando sem o projétil para impelir e dá esse efeito visual das chamas em pleno ar na frente do cano.
Quanto a virada cultura, acho uma bela bosta. A gente já passa um ano inteiro em São Paulo, tendo ataques de ansiedade para decidir o que fazer nessa cidade cheia de oportunidades culturais concomitantes. Dai inventaram um fim-de-semana com mil vezes mais oportunidades, só para você ver como pode ser pior, ter que escolher entre a Missa Conga no Largo do Paissandu ou o Show do Karnak no Anhangabaú, ou ainda o outro barato que tava dando no Sesc.
Como de costume, passo a decisão adiante, para evitar a gastrite. Me mandaram para Porto Alegre, fotografar.
Quanto às capas de jornal, sim, elas são feitas para vender. E como séries de tv, o que vende mais ainda é o crime, o tiro, o defunto, a maldade humana, o nosso lado aninal que fingimos não existir. Ninguém compraria o jornal para ver que a virada foi um sucesso, mas sim para ver o que deu errado. Infelizmente, isso é lógico.

luish disse...

o jornal em si já é um objeto maluco. corrobora com a divisão do mundo em esportes, cultura, cotidiano, dinheiro, links, sei lá mais o quê. enquanto dá emprego para jornalistas (que podem ser mediocres e excelentes) mas depende mesmo é das Casas Bahia anunciando no domingo. e, como dizia Rubem Braga, acaba embrulhando peixe no dia seguinte. o jornal em si é um grande retrato diário feito por um corpo coletivo de vários fotógrafos e redatores salpicado de publicidades. descartável? repetido? interessante?